A “inteligência artificial generativa”, apesar do nome, não gera conteúdo do zero. Ela articula, de maneira original, informações que estavam em algum lugar. Qual lugar? Quais lugares? Essa resposta, importante para saber quem estamos convidando para dentro de nossas casas e empresas, começou a aparecer essa semana.
O Washington Post conseguiu acesso ao banco de dados Google C4, usado para treinar os modelos de aprendizado de linguagem do Facebook e do próprio Google, entre outros.
Entre mais de 15 milhões de sites, tem de tudo. (Sites acusados de apologia ao nazismo, inclusive). Vale dizer que esse conteúdo é extremamente filtrado antes de chegar aos chatbots.
Eis as principais fontes, identificadas pelo jornal, usadas para o treinamento de inteligência artificial:
A revelação do Washington Post joga pressão sobre os direitos autorais. Não é um assunto qualquer.
Com a lei de patentes de 1474, Veneza acabou estimulando a inovação – e assim tivemos Leonardo da Vinci.
Mas proteção demais encarece e engessa a inovação: Apple e Samsung gastaram oito anos e alguns milhões de dólares na troca de acusações de plágio. Existe um nível certo de proteção da autoria, e a AI parece mudar esse equilíbrio.
Em abril, a Universal Music pediu para os streamings de música bloquearem o treinamento de modelos de inteligência artificial. Não foi suficiente.
Nos últimos dias, a música “Heart On My Sleeve”, com as vozes de Drake e The Weeknd, foi ouvida mais de 600 mil vezes no Spotify e 10 milhões de vezes no TikTok. Apesar do sucesso, a música foi retirada do ar. As vozes foram geradas por inteligência artificial, sem autorização dos artistas. (Entendo a sua curiosidade, mas não posso publicar aqui um link para a música. Entre outros motivos, porque o link ficaria perdido em pouco tempo).
Com o fotógrafo Boris Eldagsen, aconteceu o contrário. Ele ganhou um prêmio no Sony World Photography Awards 2023, mas, em vez de comemorar, disse que havia gerado a foto por computador. Boris afirma que entrou no concurso apenas para saber se prêmios de fotografia estão prontos para a era da inteligência artificial. “Não estão”, diz.