Quando Larry Page e Sergey Brin fundaram o Google 25 anos atrás, em setembro de 1998, eles criaram mais do que uma startup. Os dois estudantes da Universidade Stanford criaram o modelo atual de empresa tech: um negócio exponencial, asset light, baseado em dados e na internet. Um modelo tão revolucionário, que o mercado demorou a entender.
Desde o IPO, em 2004, o valor de mercado do Google aumentou mais de 6.000%. A empresa (rebatizada como Alphabet) levou 22 anos para alcançar o valuation de US$ 1 trilhão – Apple e Microsoft precisaram do dobro do tempo.
Acompanhe esse texto para ver:
- Como o Google nasceu (spoiler: não era Google)
- Como o Google se financiou com venture capital antes do IPO
- Como foi o IPO do Google
- Como o Google cresceu depois do IPO
- A G2D e VC
1 - Como o Google nasceu (spoiler: não era Google)
Larry Page conheceu Sergey Brin em 1995. Page pensava em fazer doutorado na Universidade Stanford. Brin, estudante do segundo ano da graduação em ciência da computação, apresentava a escola para interessados – e foi escalado para receber Page. Um achou o outro “desagradável”, mas desagradável de um jeito instigante.
Tim Berners-Lee inventou a world wide web como uma rede de páginas igualmente importantes. Page quis o contrário disso: hierarquizar a internet. Para identificar as páginas mais relevantes, ele adotou o mesmo critério usado nos estudos acadêmicos: as citações. Quantos sites citam (no caso, dão link) para o seu? Qual é a importância de cada um dos sites que deram link? Matemático brilhante, Brin programou um algoritmo classificador de páginas (o PageRank) e assim nasceu o... BackRub.
Nascido de uma curiosidade conceitual – mapear os backlinks da internet –, o BackRub encontrava sites mais relevantes do que os buscadores líderes do mercado, como AltaVista e Yahoo!. “Percebemos que tínhamos uma ferramenta de consulta”, disse Page à revista Wired. “Isso proporcionou uma boa classificação geral das páginas.”
Além de melhor que os líderes, o BackRub era escalável. Enquanto alguns buscadores cadastravam os sites manualmente (um trabalho que ficava mais difícil conforme a internet crescia), o BackRub era o contrário. Como ele se alimentava de dados, o crescimento da internet tornava suas respostas ainda melhores.
Como classificar a internet parecia um trabalho gigantesco, os dois lembraram do número 10¹⁰⁰ – conhecido entre os matemáticos como googol. Um ano depois de se conhecerem, Page e Brin lançaram o Google no site de Stanford.
Sucesso dentro de Stanford, o Google precisava de mais e mais computadores para processar as buscas. Page e Brin foram montando máquinas com as peças que encontravam nos laboratórios – um deles funcionava dentro de uma caixa formada por bloquinhos coloridos de Lego.
2 - Como o Google se financiou com venture capital antes do IPO
O Google talvez seja o melhor exemplo de empresa exponencial do mundo. Com pouco mais de US$ 1 milhão em investimentos, o Google já alcançava 8% do mercado mundial de buscas – ligeiramente atrás do MSN, da gigante Microsoft. “O Google chutou nossa bunda”, admitiu certa vez Bill Gates.
Clique no vídeo para ver como o Google dominou o mercado de buscadores.
Antes do IPO, o Google fez apenas três captações de investimento:
- Pré-seed: US$ 100 mil, em agosto de 1998
- Angel: US$ 1 milhão, em novembro de 1998
- Série A: US$ 25 milhões, em junho de 1999
2.1 - Pré-seed
Mesmo com uma ideia excelente em mãos, Page e Brin resistiam à ideia de empreender. Concordaram quando o orientador de Page disse que, se tudo desse errado, ele poderia voltar à faculdade e concluir o doutorado.
Professor de Stanford, David Cheriton apresentou Page e Brin a Andy Bechtolsheim, cofundador da Sun Microsystems. Antes de terminarem a apresentação, Bechtolsheim assinou um cheque de US$ 100 mil.
Só com o investimento pré-seed, o Google foi formalmente registrado. "Eles precisavam de dinheiro para pagar aos advogados, pela incorporação da empresa", disse Bechtolsheim ao New York Times. "E eu queria ter certeza de fazer parte dessa empresa".
2.2 - Angel
Dessa vez, o próprio David Cheriton participou da rodada, junto com Andy Bechtolsheim. A eles se juntaram dois líderes da... Amazon: Ram Shriram (vice-presidente de desenvolvimento de negócios) e o próprio Jeff Bezos (fundador e CEO).
“Eu simplesmente me apaixonei por Larry e Sergey”, disse Bezos. “Não havia plano de negócios. Eles tinham uma visão. Era um ponto de vista focado no consumidor”.
Cada um dos quatro investidores pôs na mesa US$ 250 mil e, com esse milhão, o Google alcançou escala mundial.
2.3 - Série A
A rodada de US$ 25 milhões atraiu a gigante do venture capital Sequoia Capital. Entraram também famosos como Tiger Woods (jogador de golfe), Shaquille O’Neal (jogador de basquete), Arnold Schwarzenegger (ator), Al Gore (vice-presidente dos Estados Unidos, que anos depois ganharia o Oscar e o Nobel) e Henry Kissinger (secretário de Estado que nos anos 1970 reaproximou os Estados Unidos da China).
Mas depois, no ano 2000, veio o estouro da bolha da internet e a queda na cotação das empresas listadas em Bolsa. Mesmo aguardado até 2004, o IPO do Google não foi cercado de otimismo. Pelo contrário.
3 - Como foi o IPO do Google
A chefia do Google não parecia especialmente empolgada com um IPO. “A lei americana exigia a divulgação de resultados, conforme a empresa tivesse mais de 500 acionistas”, disse o CEO Eric Schmidt. “Então tínhamos três caminhos: comprar de volta a participação de funcionários e, assim, ficar abaixo de 500; continuar uma empresa privada, mas agora divulgando resultados como uma empresa pública; ou fazer IPO”.
Investidores não pareciam especialmente empolgados com um IPO do Google. Em 2004, o Google pré-IPO era líder do mercado de buscadores, com uma fatia de 30%. Mas e daí? Em 1996 a Netscape tinha 90% do mercado de navegadores da internet e, seis anos depois, havia caído para menos de 2% - bastou a Microsoft entrar na briga.
Na documentação pré-IPO enviada ao SEC, o próprio Google previa o risco de perder a liderança do mercado de busca na internet. “Microsoft e Yahoo têm mais funcionários que nós (no caso da Microsoft, mais de 20 vezes mais). A Microsoft também tem significativamente mais dinheiro que nós. Essas duas empresas têm mais tempo de atuação e parcerias mais bem estabelecidas com consumidores”.
O Google enfrentava o risco, usual, de perder mercado para a concorrência. E enfrentava o temor da descaracterização. “As pessoas temiam que o Google mudaria, de uma startup jovem e brilhante para uma empresa madura, sem o espírito peculiar que a tornou tão inovadora”, diz Schmidt.
Os fundadores Larry Page e Sergey Brin escreveram uma carta aos investidores, dizendo: “O Google não é uma companhia convencional. Não pretendemos nos tornar uma”. Os fundadores fizeram questão de incluir a carta na documentação para o IPO. A SEC relutou em anexar à documentação aquele texto com frases pouco verificáveis no âmbito do mercado de capitais, como “don’t be evil” ou “making the world a better place”, mas acabou cedendo.
A SEC também anexou à documentação do Google algumas páginas da Playboy: a revista resolveu publicar, durante o período de silêncio pré-IPO, uma entrevista que Page e Brin haviam dado meses antes. Hoje o mundo se acostumou à Alphabet, mas, àquela época, a empresa parecia bem exótica.
Page e Brin quiseram fazer um inusual IPO “à moda holandesa”, com uma espécie de leilão antes de fixar o preço, a fim de favorecer pequenos investidores. O mercado estranhou.
O Google esperava oferecer cerca de 25 milhões de ações, a um preço unitário entre US$ 109 e US$ 135. Sem encontrar demanda, reduziu a quantidade para cerca de 19 milhões e baixou a faixa para US$ 85 a US$ 95. Acabou vendendo pelo valor mais baixo: US$ 85. No dia, a CNN definiu o IPO como “complicado”. Segundo a CNBC, foi "um desastre".
Com valuation de US$ 23 bilhões, o Google estreou na Bolsa com um múltiplo de 10 vezes a receita. Barato. Ficou 41% abaixo do Yahoo! (com valor de mercado de US$ 39 bilhões), mas isso não surpreendeu os especialistas ouvidos pela CNN: “Muitos analistas argumentam que o Yahoo! deve ser negociado com um premium, por ser uma companhia mais diversificada".
Isso mostra como o mercado estava subestimando o Google. No IPO, o Google já não era só o melhor buscador do mercado. Em 2003, a empresa havia criado um negócio de anúncios e o sistema operacional Android. (Com o tempo, os dois se tornariam líderes de seus mercados). Em 2004, a empresa lançou uma rede social (o Orkut) e um email gratuito (o Gmail).
Ninguém entendeu tão bem a web 2.0 quanto o Google. Ou, mais do que isso: a internet - e o mundo - seriam muito diferentes se os dois estudantes de Stanford não tivessem criado o Google.
4 - Como o Google cresceu depois do IPO
Nos anos seguintes ao IPO, o Google consolidou seu papel como o lugar onde as pessoas buscam coisas, ao lançar o Maps (2005) e comprar o YouTube (2006).
Ao comprar o YouTube por US$ 1,7 bilhão (o maior valor pago por uma plataforma de vídeo até então), perguntaram a Eric Schmidt não se ele estava diante de uma nova bolha da internet. O CEO do Google respondeu: “Antes de chamar isso de uma bolha, por que você não pensa em uma tendência?”.
Eric Schmidt estava certo.
Desde o primeiro pregão, em 2004, as ações do Google se valorizaram cerca de 5.000% – no mesmo período o Nasdaq Composite aumentou cerca de 600% e o S&P 500, 300%. O lucro líquido do Google aumentou 15.000% e a receita, 9.000%.
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5 - A G2D e VC
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