O Silicon Valley Bank quebrou no dia 10, deixando o mundo (em especial, o mundo de Venture Capital) em suspense. Era o banco onde grande parte das startups do Vale do Silício guardava o dinheiro recebido nas rodadas de investimentos.
O governo americano trouxe alívio ao garantir os saques dos correntistas do SVB e do Signature (outro banco, menor, que também fechou).
Há quem manifeste o medo de uma crise sistêmica. É o caso de Ray Dalio, fundador do fundo Bridgewater.
Nessa hora, é interessante saber o que dizem os especialistas. Mas, claro, não qualquer um. Estamos falando de gente no nível "ganhou um Nobel por causa disso".
Existem três especialistas assim no mundo: Ben Bernanke, Douglas Diamond e Philip Dybvig. Os três dividiram o Nobel de 2022 por suas pesquisas sobre o tema Bancos e Crises Financeiras.
Ben Bernanke destacou-se menos por sua produção acadêmica e mais por sua atuação como chairman do Federal Reserve (FED, o Banco Central americano) entre 2006 e 2014. Coube a ele minimizar o efeito contágio após a quebra do banco Lehman Brothers, em 2008.
Douglas Diamond e Philip Dybvig publicaram juntos, em 1983, o texto Bank Runs, Deposit Insurance, and Liquidity. Eles criaram o modelo matemático que descreve a fragilidade dos bancos diante de uma crise financeira, e que orientam governantes do mundo todo a evitar crises sistêmicas - como a Crise de 1929.
"Diamond e Dybvig desenvolveram modelos teóricos que explicam por que os bancos existem, como seu papel na sociedade os torna vulneráveis a rumores sobre seu colapso iminente e como a sociedade pode reduzir essa vulnerabilidade", diz o texto de apresentação feito pelos organizadores do Nobel. "Essas percepções formam a base da regulamentação bancária moderna".
Curtinho, o estudo tem só 19 páginas - mas parece que nem todo mundo leu.
Para Diamond, SVB e Signature quebraram por erros de gestão:
“O Silicon Valley Bank meio que violou as regras básicas de como um banco deveria funcionar. Bancos fazem sua mágica diversificando seus riscos de ativos, evitando uma sobrecarga em qualquer risco específico. Fazem diversificação de fontes de financiamento", disse Diamond. "Esses bancos e os reguladores cometeram um grande erro ao ignorar esses princípios básicos. Foi um erro de gestão".
Para o ganhador do Nobel, o mercado amadureceu desde a crise de 2008. “O sistema financeiro, como um todo, está forte. Os bancos grandes não têm as enormes exposições ao risco de taxa de juros que SVB e Signature tinham", diz. "Foi um tipo de falência muito mais simples do que aquelas ocorridas após a quebra do Lehman Brothers”.
Fontes de estudo sobre Bancos e Crises Financeiras
Bank Runs, Deposit Insurance, and Liquidity - o texto fundamental nesse assunto, de Douglas Diamond e Philip Dybvig
Modelo Diamond-Dybvig e suas implicações para o sistema financeiro e política monetária - artigo da FRASER, revista ligada ao Federal Reserve, sobre a importância do estudo Bank Runs, Deposit Insurance, and Liquidity
Financial Intermediation and the Economy - texto assinado por Ben Bernanke, Douglas Diamond e Philip Dybvig, ao ganhar o Nobel
The laureates explained the central role of banks in financial crises - explicação simples sobre os conceitos da fragilidade dos bancos diante de crises
Banking,Credit, and Economic Fluctuations - vídeo da aula magna que Bernanke deu ao ganhar o Nobel
Financial Intermediation and Financial Crises - vídeo da aula magna que Douglas Diamond deu ao ganhar o Nobel
Multiple Equilibria - vídeo da aula magna que Philip Dybvig deu ao ganhar o Nobel